terça-feira, 28 de junho de 2011

"A única constante é a própria Mudança"

   Ao olhar para o meu perfil no Facebook deparei-me com o link deste blog, e dei por mim a pensar quando tinha sido a última vez que aqui tinha escrito. Vim ver: foi o dia em que postei o poema "à lá Fernando Pessoa Ortónimo" que escrevi a meias com o meu ex-colega de carteira/amigo -- ex- porque, agora que deixámos de nos sentar diariamente ao lado um do outro, somos pouco mais que estranhos, poucas palavras trocamos e cada vez com menos frequência, mas talvez isso se deva em grande parte ao carácter "utilitário" que julgo ver na nossa relação de amizade: parece que nos juntávamos mais apenas quando um precisava de desabafar e se sentia mesmo em situação crítica, e quando naquele momento não tínhamos mais ninguém perto que "preferíssemos". Em certa medida, se virmos as coisas deste prisma, até pode ser uma coisa boa este afastamento pois significa apenas que nenhum está tão desesperadamente mal que o outro se torna a única solução possível para exteriorizar os seus sentimentos. 
   Mas ainda assim penso que não é só disso que se trata. De há alguns meses para cá viemos a afastar-nos progressivamente, de forma espontânea, e sei que a "culpa" também é em parte minha porque não dei por isso, estando de tal forma inebriada por todas as mudanças, para melhor e para pior, que têm ocorrido nos últimos tempos. Não sei precisar ao certo quando é que isto começou a acontecer mas diria que foi sensivelmente na mesma altura em que começaram a pegar em força as modas sociais naquela so-called turma (digam o que disserem, não posso dizer que a definição de turma seja um grupo de alunos que têm aulas nas mesmas salas ao mesmo tempo com os mesmos professores; falta algo de humano nessa definição, assim como falta alguma humanidade a muitos dos que se consideram parte de uma turma) e na escola em geral, ou seja, por volta da segunda metade do 2º período. A partir daí as coisas evoluíram tão rápido que não deu tempo sequer de me aperceber do que se estava a desenrolar à frente dos meus olhos, e de repente foi como se tivesse acordado e visto tudo de cabeça para baixo. Já não se juntavam dentro da escola antes das aulas e nos intervalos com o resto da "turma", agora a turma eram os que passavam metade da vida no portão a fumar ou a "cravar", ou a beber às vezes, e a outra metade a falar e a pensar nisso. Todos os que não seguiam A Moda eram, e foram, rapidamente esquecidos e chegámos ao ponto absurdamente ridículo de, no fim do ano, nem sermos por vezes cumprimentados com mais do que um olhar indiferente de quem olha um desconhecido da parte dos que diziam fazer parte do Grupo que jamais se separaria. Nem todos adoptaram a 100% esta pseudo-lavagem cerebral, mas mesmo assim notaram-se muitas diferenças, especialmente na individualidade das pessoas. Notei, por exemplo, no meu amigo e colega de carteira que ele tinha uma espécie de comportamento duplo: um quando estava com a Malta, lá fora, e outro quando estava com o grupo (do qual nunca fui convidada a fazer parte e continuo a ignorar as razões para tal, uma vez que lá se encontravam pelo menos dois grandes amigos meus. Mas eh! sempre me deixaram tirar-lhes uma fotografia! Fui eleita fotógrafa, já me sinto realizada), dentro da escola, e que era o mesmo que tinha quando falava comigo. Quase como se quisesse distanciar bem as situações, mas sem fazer ninguém sentir-se de parte ao mesmo tempo que se tentava integrar no que ele julgava ser "o mais fixe" e manter-se no que considerava como seguro. No entanto, fiz-lhe ver pelo menos por duas vezes, quando me encontrava também perto da Malta com outros outsiders, que ele era apenas uma pessoa e que tinha de saber conciliar a forma como se dava com os dois "grupos", e vi que pelo menos nesses momentos ele ficou sensibilizado com a ideia. No entanto, aos poucos foi-se desligando cada vez mais do seu "velho eu" e chegou ao ponto de já quase nem falarmos, nem nas aulas, isto já no fim do ano. 
   Agora já pouco falamos, como referi antes. Mas não faço tenção de deixar isto continuar indefinidamente, em especial por lhe ter pedido expressamente para não quebrarmos contacto depois da escola acabar -- e ele ter concordado -- e por ele ter representado uma parte muitíssimo importante para mim este ano e ter sido das pessoas a quem mais devo por me ter sempre ouvido quando lho pedi (coisa que muito poucas pessoas se mostram disposta a fazer, independentemente do que eu possa já ter feito por elas). Se há mudanças que eu quero manter, e este ano foi especialmente rico em mudanças de todos os tipos, esta é uma delas; não quero deixar as coisas voltar ao que eram dantes.

   "Ao olhar para o meu perfil no Facebook"... Como tudo mudou, de facto. Eu, que tinha jurado a pés juntos que não faria mais parte de modas inúteis como redes sociais (depois da desastrosa experiência Hi5 que não servia para mais do que fazer as pessoas, normalmente com menos de 15 anos, sentirem-se importantes, algo que comigo nunca resultou), vejo-me agora como uma quase-dependente voluntária desse site... Posso mesmo dizer que sinto um certo desprezo pela minha parte racional e deliberante por ter chegado ao ponto de ser quase a primeira coisa que faço quando ligo o computador, todos os dias. Não que seja daquelas pessoas que dizem ficar enojadas, deprimidas e sabe Deus mais o quê por ficarem um dia afastadas do Facebook, Messenger ou outra rede social, ou mesmo do telemóvel; simplesmente tenho uma necessidade cada vez maior de estar contactável a qualquer altura por uma quantidade de pessoas que, se precisassem de falar comigo, certamente encontrariam alguma forma de o fazer mesmo que eu não estivesse online e com o telemóvel desligado, porque basicamente sabem onde eu vivo (!). E o mais estranho é que aceito tudo isto de forma pacífica demais para mim, tendo em conta que me conheço há 18 anos e assumindo que, na realidade, me conheço, coisa de que nunca posso ter a certeza dada a variedade de coisas diferentes que se passam dentro da minha pessoa (nomeadamente esta irritante mania de absorver como uma esponja certas marcas literárias dos autores que me fascinam; de momento, estou em modo Fernando Pessoa). Mais estranho ainda é o facto de não ter aderido ao "Face" pela simples moda ou por "necessidade" (por exemplo, necessidade de falar com alguém em especial) mas sim para experimentar; e foi uma experiência positiva. Curiosamente logo depois de me ter ligado à Rede outra pessoa também se ligou, e houve de facto uma certa necessidade de estar no face a toda a hora, mas ainda bem que o que não é bom não dura para sempre porque em breve tal necessidade se desvaneceu.

   Infelizmente, o que é bom também não dura para sempre. Mas agora a questão impõe-se: se é bom viver num sonho, numa ilusão de harmonia, não será porém preferível acordar de uma vez por todas dessa fantasia e viver no mundo real, onde sabemos com o que podemos contar e podemos ansiar por algo verdadeiramente bom em vez de um bom sonho? Embora saiba o quanto é desejável o sentimento de segurança que leva a essa "harmonia", não consigo viver num sonho de estagnação que a cada dia se torna mais como um pesadelo; prefiro acordar e saber que estou desprotegida, pois só assim posso partir para a acção e fazer os possíveis --  e às vezes os impossíveis -- para viver uma vida realmente melhor. Foi assim que tomei uma grande decisão este ano, que mudou de forma radical a forma como me relaciono com os outros e como me vejo. (...)